Comunicação alternativa humaniza relação entre profissionais e pacientes de UTI do Hospital do Hangar

Comunicação alternativa humaniza relação entre profissionais e pacientes de UTI do Hospital do Hangar

20/08/2021 Off Por Roberta Vilanova

Enfermeira do Hospital de Campanha, no Hangar, mostra o conteúdo do cartaz para incentivar a comunicação com os pacientes

Durante a internação para o tratamento da Covid-19, pacientes em estados mais avançados podem passar por procedimentos invasivos, como a intubação e traqueostomia. Dentro do Hospital de Campanha do Hangar, criado pelo Governo do Estado exclusivamente para receber pessoas acometidas pelo novo coronavírus, não é diferente. Em alguns desses casos, essas intervenções necessárias podem causar o enfraquecimento momentâneo da voz.

“Quando o paciente volta, após o coma, em alguns casos, não consegue se expressar como fazia antes da doença. Ele vai reaprendendo muitas coisas, inclusive a falar”, diz a médica intensivista, Zbyeth Tadaiewsky. Pensando nisso, para facilitar a comunicação desses pacientes durante a internação e aproximá-los, um grupo de profissionais que atua na unidade hospitalar desenvolveu materiais de comunicação alternativa, que contam com figuras, com foco em quem não consegue ler.

Entre as opções mostradas estão as frases “estou com medo”, “tenho dúvidas sobre o tratamento”, “me conte uma notícia do mundo”, além de outras necessidades como fome ou sede.

“Muitas dessas pessoas não conseguem falar que estão com frio, sede ou outros sentimentos e cabe a nós, que estamos na assistência focados na melhora deles, entender isso. Depois que passamos a usar esse conteúdo aqui, essa relação mudou. Direitinho e sem nenhum esforço, eles conseguem expressar o que precisam”, diz a enfermeira Goretty de Fátima da Silva.

Entre os internados que tiveram a comunicação facilitada, a profissional lembra de um que emocionou a equipe. “Um paciente chamou bastante atenção e nos deixou emocionados. Mostramos as figuras e logo ele apontou para a que dizia que estava com sede. Depois, ele pediu para saber alguma notícia do mundo, nós falamos que a vacinação já estava ocorrendo e que, provavelmente, os pais dele já estavam vacinados. Ele chorou bastante e nós choramos também” lembra.

Experiência do paciente – Raphael Carvalho Derze, 37, veio de Benevides, Região Metropolitana de Belém, e ficou um mês internado em tratamento intensivo. Para ele, o engajamento da equipe foi fundamental para dar força e crença no tratamento e recuperação.

“O tratamento que todos esses profissionais me deram foi incomparável, eu lembro até hoje da voz da médica dizendo para eu não desistir. No início, eu só queria dormir, sentia raiva e achava que não precisava estar ali, mas depois entendi que eles só queriam me ajudar para que eu saísse logo daquele quadro”, conta.

O microempresário relembra momentos em que se sentiu acolhido e ouvido. “Quando passei pela extubação, não tive tanta dificuldade com a voz, mas as enfermeiras me mostravam as imagens e aquilo me ajudava porque eu sabia que elas estavam lá e se preocupavam com os pequenos detalhes, desde saber se eu estava triste ou com medo. Minha gratidão será eterna”.

Humanização na assistência – Essa é mais uma estratégia para facilitar a recuperação de pacientes internados para o tratamento da Covid-19 no Hospital de Campanha do Hangar. A unidade inclui estratégias de acolhimento, como musicoterapia, chamadas de vídeo entre pacientes e familiares, e oficinas de artesanato.

“O nosso principal objetivo é reintegrar esses pacientes e tornar esse período de internação o mais acolhedor e empático possível. É fundamental que todos os sentimentos negativos dessas pessoas, como dores, traumas e medos, sejam minimizados para que elas, o mais rápido possível, se recuperem e retornem aos seus lares”, diz Josieli Pinheiro, diretora assistencial do Hospital de Campanha do Hangar.

Para o secretário de Saúde do Pará, Rômulo Rodovalho, a iniciativa do hospital proporciona mais humanização no ambiente, visto que a maioria dos profissionais não conhece a história de vida de seus pacientes, não sabe do que eles gostam, seus hobbies, profissão, hábitos. “Nesse sentido, o objetivo é mostrar que estão zelando e cuidando daquele paciente que é marido, esposa, a avó, enfim, o amor de alguém que está lá fora na expectativa da alta hospitalar”, comenta.

Maior unidade do norte do país criada para o tratamento de pessoas com Covid-19, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o hospital já atendeu mais de 7 mil pessoas acometidas com o vírus, do Pará e outros Estados. Desse número, 337 foram transferidos, 4.846 receberam alta e 2.027 não resistiram à doença. Hoje, a unidade conta com 160 leitos e ocupação de 29%.

Texto: Alberto Dergan/HCH

Foto: Divulgação