
Hospital Abelardo Santos fortalece a cultura da doação de órgãos pelo Setembro Verde
18/09/2025
De acordo com especialistas da unidade, a falta de informação ainda é um dos principais obstáculos às doações de órgãos
O Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), em Icoaraci, distrito de Belém, é referência na captação de rins e fígado no Pará. Para ampliar ainda mais esse trabalho e sensibilizar a sociedade sobre a relevância da doação de órgãos, tema da campanha Setembro Verde, a unidade promoveu uma série de atividades, que se encerra hoje (18), com a 1ª Jornada Científica de Doação de Órgãos.
Durante o evento, foi apresentado aos convidados um levantamento que revela a dificuldade em transformar potenciais doadores em doadores efetivos, mesmo com a estrutura técnica e humana disponível no Hospital Abelardo Santos. Em 2024, por exemplo, dos 17 pacientes considerados aptos à doação no HRAS, apenas dois tiveram a autorização das famílias, ou seja, um índice de recusa de 88,23%.
“Em muitos casos, a família desconhece a vontade do falecido em ser doador. Além disso, a falta de informação sobre o processo de doação, somada a mitos e certos medos quanto à integridade do corpo, também influencia nesse momento delicado”, ressalta a enfermeira Dejenane Costa, presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do HRAS.
No contexto nacional, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 40% das possíveis doações não se concretizam por recusa da família. Isso significa que, mesmo com o potencial de salvar até oito vidas com um único doador, a decisão final dos parentes impede que o processo avance. Atualmente, mais de 43 mil pessoas estão à espera por um transplante no Brasil.

Jornada Científica discute desafios e estratégias da doação de órgãos no Hospital Abelardo Santos
Programação
A Jornada Científica de Doação de Órgãos foi estruturada em três etapas: palestras, cursos e apresentação de pesquisas desenvolvidas pelos profissionais. Entre os temas abordados, destacaram-se a importância do acolhimento familiar no processo de doação, o papel do enfermeiro na comissão de captação, os aspectos éticos relacionados ao paciente doador e as estratégias de conscientização da população.
Para Dejenane Costa, além das razões já mencionadas para a recusa dos familiares, também pesam fatores religiosos e culturais. “Embora a maioria das religiões não se oponha à doação de órgãos, muitas famílias interpretam a prática como um desrespeito ao corpo ou temem que interfira na despedida. Diante desses e outros aspectos, é fundamental intensificar as campanhas de conscientização”.
A presidente da CIHDOTT lembra que o HRAS mantém uma estrutura de alta complexidade e na humanização durante todo o processo de doação. O cuidado começa no acolhimento ao paciente até o suporte aos familiares. As captações de órgãos são conduzidas por uma equipe multiprofissional que envolve médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, entre outros profissionais.

Hospital tem estrutura de alta complexidade e garante segurança em todas as etapas do processo de captação de órgãos
Como ser um doador de órgãos?
Segundo a ABTO e a Lei dos Transplantes, nenhuma declaração em vida é considerada válida para autorizar a doação de órgãos. Isso significa que não é possível registrar esse desejo em testamento ou em documentos como a carteira de identidade ou de habilitação. Por esse motivo, o passo mais importante é conversar com a família e deixar claro o seu desejo de ser um doador.
“Quanto mais pessoas conseguirmos sensibilizar sobre a importância da doação de órgãos, ampliamos a possibilidade daqueles pacientes que aguardam por um órgão de, enfim, vivenciar o momento do transplante. Então o nosso objetivo é fazer com que essa família entenda a importância do processo e saia daqui como replicadora desse ato de amor”, concluiu a enfermeira do CIHDOTT, Lucinéia Veloso.
Os procedimentos seguem os protocolos do Ministério da Saúde, com exames clínicos e a avaliação da CIHDOTT do hospital, até a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. Todas as captações são viabilizadas pela Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa), por meio da Central Estadual de Transplantes (CET), e fazem parte das ações que fortalecem a política pública de transplantes no estado.
Texto: Diego Monteiro (HRAS)