Oficina na Sespa debate aspectos do vírus HTLV
18/06/2024Com o tema “Saindo da Invisibilidade”, foi realizada em Belém a Oficina Estadual sobre Vírus Linfotrópico de Células T Humana (HTLV), no auditório da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Trazida por especialistas equipe técnica do Ministério da Saúde (MS), a atividade reuniu ainda técnicos da Secretaria, gestores municipais dos Serviços de Atenção Especializada (SAES) e da Sociedade Civil, com o objetivo compartilhar informações sobre a doença e o fluxo de assistência a pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Pará.
“A oficina vem com o intuito de associar a integralidade do SUS com os serviços que atendem pessoas vivendo com o HTLV. Assim, esperamos levar conhecimentos que possibilitem os profissionais compreenderem desde a transmissão à prevenção”, destacou Jair Brandão, consultor técnico do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DATHI) do MS.
O vírus HTLV é uma doença infecciosa descoberta na década de 1980. O HTLV é retrovírus, assim como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e ambos não comportam cura. Assim como o HIV, o vírus do HTLV tem afinidade por células linfócitos T do corpo humano, que são do sistema imune.
Os sintomas aparecem em função da infecção pelo vírus, que podem ser inespecíficos, dificultando o diagnóstico precoce. Entre os quais estão gânglios inchados; alterações na visão; fraqueza; dormência, formigamento nos membros, dor no corpo, dermatites, problemas neurológicos, além do desenvolvimento de doenças oncológicas, como leucemia e o linfoma.
É transmitido por meio do contato sexual sem a devida proteção, do compartilhamento de seringas e agulhas, em transfusões sanguíneas e de mãe para filho, durante a gestação, o parto ou mesmo na amamentação.
Os agravos que podem surgir no indivíduo em decorrência de uma infecção desse vírus devem ser tratados com orientação médica. “A intenção dessa oficina é trazer informações sobre esse vírus, pois uma parte dos diagnosticados é assintomático, mas a outra apresenta sintomas sem saber do que se trata. Portanto, é importante que tanto os profissionais de saúde, como também a sociedade civil, estejam munidos de estratégias de como agir com os pacientes”, explica a médica infectologista Romina Oliveira, consultora técnica da Secretaria de Vigilância em Saúde do MS.
Na oportunidade, foram debatidos temas como cenário estadual, cenário nacional, prevenção, diagnóstico, rede de cuidados e transmissão vertical. A formação serviu ainda de espaço para discussões e perguntas.
Entre os palestrantes, esteve o professor doutor Antônio Vallinoto, chefe do Laboratório de Virologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), que é uma das referências no mapeamento da ação do vírus no Pará. “Importantíssima a realização dessa capacitação, que ajudará no aperfeiçoamento da leitura da prevalência do HTLV no território paraense”, assinalou.
O técnico da Coordenação Estadual de IST/Aids, Samuel Cruz, comentou a necessidade de alertar a população para a existência do vírus, orientou o fluxo do atendimento ao usuário identificado com HTLV dentro da rede e destacou que diante dos agravos que o vírus pode desencadear, a assistência deve ser compartilhada entre Atenção Primária em Saúde, SAES e serviços de pronto atendimento para casos agudos e média e alta complexidade para os casos mais graves.
Por ainda não existir vacina ou medicamento contra o vírus, o tratamento foca nos sinais e sintomas, o que inclui a interrupção da amamentação para as lactentes expostas, com recomendação e garantia do uso de inibidores de lactação e de fórmulas lácteas infantis. Atualmente, a prevenção mais eficaz parte da informação e uso de preservativos internos (feminino) e externos (masculino) em todas as relações sexuais, além de não compartilhar seringas, agulhas ou objetos perfurocortantes.
Segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que existam de cinco a 10 milhões de infectados no mundo. Pelo menos 800 mil estão no Brasil, com maior prevalência em pessoas do sexo feminino. No Pará, 8 casos confirmados da doença foram confirmados em 2022 e seguidos de outros 07 no ano passado. Os exames são confirmados pelo Laboratório Central do Estado (Lacen), apesar da doença ainda não ser de notificação obrigatória no Sinan.
A oficina realizada na Sespa ainda teve a fala de representantes da Sociedade Civil, com vários testemunhos em torno da luta por visibilidade, direitos e melhores condições para as pessoas vivendo com HTLV, enfrentando o estigma, o preconceito e a discriminação.
Desses momentos, a oficina contou com as falas de Adijeane Oliveira, presidente da Ong HTLVida, de Salvador; de Amélia Garcia, do Arte pela Vida, de Belém; de Maria Elias, do coletivo Coisa de Puta; de Antonio Ozair, da OSC de Hepatites Virais Para Vidda, e Márcia Passos, da OSC LGTQI+Lesbipara.