Uso de Libras garante ambiente inclusivo a deficientes auditivos em centro de reabilitação

Uso de Libras garante ambiente inclusivo a deficientes auditivos em centro de reabilitação

24/04/2022 Off Por Roberta Vilanova

Rogério Dias Moreira, intérprete de Libras do CIIR,  comunica-se com um dos colaboradores da instituição por meio da língua de sinais

Neste domingo, 24, é comemorado o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Criada pela lei nº 10.436/2002, a data veio para eliminar barreiras e proporcionar maior inclusão na vida de todas as pessoas, especialmente os deficientes auditivos, que atualmente somam 9,8 milhões de brasileiros, o que representa 5,2% da população. Deste total, 2,6 milhões são surdos e 7,2 milhões apresentam grande dificuldade para ouvir, segundo pesquisa do IBGE de 2010.

Para garantir a qualidade e humanização na assistência, a gestão do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém, investe na capacitação de seus mais de 200 colaboradores que estão tendo aulas de Libras, para proporcionar maior inclusão e interação junto aos usuários com surdez, o que inclui crianças, jovens, adultos e idosos. O objetivo é quebrar barreiras invisíveis e melhorar a comunicação entre usuários e atendentes e, assim, fortalecer o vínculo e empatia entre os públicos.

Mariana Pinheiro do Nascimento, pedagoga e coordenador do Núcleo de Educação Permanente

Segundo a pedagoga e coordenadora do Núcleo de Educação Permanente do CIIR, Mariana Pinheiro do Nascimento, as aulas aos colaboradores estiveram suspensas por dois anos por causa da pandemia de covid-19 e, gradativamente, estão sendo retomadas. Atualmente, o CIIR possui cerca de 30 profissionais que usam a Libras para comunicação e auxílio no atendimento dos usuários com deficiência auditiva ou surdos, entre eles Portaria, Recepção, Triagem, Enfermagem, maqueiro, Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU), Almoxarifado e no setor de Arte e Cultura. “A tendência é aumentar o  número de profissionais com aula de Libras que são ministradas pelo intérprete Rogério Dias Moreira”.

Recreador – Entre os colaboradores do CIIR que usam a língua de sinais para sua vida pessoal e para auxiliar no atendimento aos usuários do Centro de Inclusão está o recreador do setor de Arte e Cultura, Luan Almeida Tavares, 29 anos. Ele é surdo e também recebe atendimento na instituição. “Uso Libras porque sou surdo e isso facilita a comunicação com os outros usuários surdos e a gente intermedeia essa comunicação entre os colaboradores. Isso também nos oportuniza um ganho maior de experiência e essa empatia para com outras pessoas”.

Luan tem uma história de determinação e superação da qual tem muito orgulho. Ele faz parte do quadro funcional do CIIR desde outubro de 2019, por meio do projeto de Empregabilidade para Pessoas com Deficiência (PCDs). “Quando cheguei aqui fiquei encantado e ao exercer minhas atividades. Sabemos da importância da língua de sinais e também da importância do conhecimento para pessoas com uso das Libras. Isso proporciona uma comunicação bem mais efetiva. Trabalhei muito no setor de arte cultura fazendo essa intermediação por dois anos, quando passei para a atividade de recreador e isso me trouxe uma outra experiência com o aprendizado de Libras. Este projeto do CIIR nos trouxe experiências para currículo e mais visibilidade. O CIIR é maravilhoso”.

Mariana Pinheiro destaca a importância da inclusão especialmente, de pessoas com transtornos globais do desenvolvimento ou com deficiências como a surdez. “No CIIR, nossos tradutores e intérpretes de Libras são os profissionais responsáveis por auxiliar na comunicação eficaz entre pessoas com deficiência auditiva e de pessoas ouvintes. Entendemos que, na promoção da inclusão, as pessoas ouvintes devem se incluir no universo das pessoas surdas, e não o inverso. Dessa forma, estaremos realmente promovendo a diminuição das diferenças”.

Disponibilidade – Desta forma, a gestão do Centro de Reabilitação cumpre o Decreto 5626/05, no qual está previsto que “os serviços de saúde devem atender diferenciadamente a comunidade surda, minoria sociolinguística e cultural, usuária da Língua Brasileira de Sinais (Libras) (BRASIL, 2005). O CIIR possui dois profissionais intérpretes de Libras.

É nesse cenário de disponibilidade de inclusão integral que a gestão da Instituição prioriza a garantia da comunicação entre colaboradores e usuários com surdez para manter um atendimento ético, seguro e humanizado para atender, orientar, instruir, conversar com os usuários com deficiência auditiva.

Alcenir Braga perdeu a audição ao cair da rede, aos três anos, e ganhou um aparelho auditivo do CIIR para melhorar suas interações

O usuário Alcenir Balga, 52, é surdo e reconhece a importância do atendimento da equipe multiprofissional oferecida pelo CIIR. Atualmente desempregado, ele agradece a todos pelo aparelho auditivo que ganhou na tarde de sexta-feira, 22. “Eu não tinha condições financeiras para comprar um aparelho e agora estou muito feliz e, finalmente, vou ter condições de tirar minha carteira de habilitação”, revelou, ao informar que recebe tratamento no CIIR desde junho de 2019. Durante a pandemia deu uma parada e retornou este mês.

Ele contou que não é o único da família com o mesmo problema. “Somos 14 irmãos, sendo 4  surdos e 10 ouvintes. Perdi minha audição em uma queda da rede quando tinha apenas três anos”, lembrou, ao informar que soube da assistência do CIIR na comunidade surda. Ele tem resquícios de sons e com o aparelho vai ter mais segurança ao andar pelas ruas e, quem sabe, até arranjar o tão sonhado emprego.

Capacitação – As aulas no CIIR são ministradas por Rogério Moreira. “Promover essa acessibilidade é de extrema importância pra mim, a cada atuação que eu faço, deixo uma sementinha plantada nas pessoas com o interesse no aprendizado. O intérprete é um elo muito importante para o atendimento aos usuários e o aprendizado dos colegas de trabalho. Dessa forma, o surdo se sente mais seguro aqui com a inclusão oferecida”, destacou Rogério, que conta com apoio da outra intérprete, Samela Freitas. Eles ministram aulas diárias em horários alternados, para grupos de colaboradores, em intervalos de suas atividades.

Diante desse cenário, a pedagoga Mariana Pinheiro reforça a importância do investimento para manter a presença de intérpretes para que os deficientes auditivos e surdos não sejam excluídos da sociedade, garantindo e promovendo os direitos desse público.

Estrutura – O CIIR oferece, em um único complexo, atendimento para pessoas com deficiência física, intelectual, auditiva e visual de todas as faixas etárias. São diversas especialidades, tecnologias e estrutura de última geração, associadas à qualidade, segurança e humanização destinadas 100% aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atendimento – Os usuários podem ter acesso aos serviços do CIIR por meio de encaminhamento das Unidades de Saúde, sendo acolhidos pela Central de Regulação de cada município, que por sua vez encaminham à Regulação Estadual. O pedido será analisado conforme perfil do usuário, pelo Sistema de Regulação (Sisreg).

Serviço – O CIIR é um órgão do Governo do Pará, administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O Centro funciona na Rodovia Arthur Bernardes, n° 1000. Mais informações: (91) 4042-2157/58/59.

Texto: Vera Rojas/CIIR
Fotos: Divulgação