Governo do Pará garante traslado de paciente que fará transplante de fígado em São Paulo

Governo do Pará garante traslado de paciente que fará transplante de fígado em São Paulo

09/11/2021 Off Por Mozart Lira

O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), providenciou nesta terça-feira, 09, o traslado de um adolescente de 17 anos, do sexo masculino, para São Paulo a fim de ser submetido a um transplante de fígado no Hospital Israelita Alberto Einstein (HIAE) nos próximos dias.

Morador de Belém, o paciente iniciou atendimento há cerca de dez dias no Centro Estadual em Doenças do Fígado da Fundação Santa Casa de Misericórdia, com um quadro de cirrose hepática descompensada.

Segundo o cirurgião Rafael José Romero Garcia, que coordena o Serviço de Transplante Hepático da Unidade, durante a internação do adolescente foi constatada a urgente necessidade de um transplante de fígado e, mediante a articulação entre a Santa Casa, a Central de Regulação da Sespa e o hospital Albert Einstein, foi possível a transferência para a capital paulista.

Esse trâmite foi oportunizado muito em função de a Fundação Santa Casa passar, atualmente, por um projeto contínuo de capacitação em Transplantes via Tutoria e por avaliação da assistência multiprofissional por parte do hospital Albert Einstein, para que seja habilitada à implantação do serviço de transplante de fígado, que já atua como referência estadual em doenças hepáticas.

Atualmente, a Santa Casa é o único serviço a realizar exames especializados pelo SUS no Pará, como elastografia hepática (exame semelhante à ultrassonografia, que avalia a saúde do fígado) e tromboelastometria (que avalia a coagulação do paciente). Em 2019, o Ambulatório do Fígado da Santa Casa foi indicado pelo Ministério da Saúde (MS) como Centro de Transplante de Fígado do Estado. Desde então, se prepara para iniciar os procedimentos.

De acordo com Nazaré Martins, médica reguladora do transporte de UTI Aérea da Sespa e que participou da preparação do embarque em Belém junto com o médico regulador Jonas Viana, o adolescente seguiu acompanhado pela mãe, a bordo da aeronave providenciada pela Sespa.

Em São Paulo, seguirá para avaliações de acordo com o protocolo do Albert Einstein e aguardará o transplante que deve acontecer nos próximos dias. Na unidade paulista, estará internado sob a responsabilidade do médico Marcelo Bruno de Rezende, coordenador e responsável técnico de Transplantes Hepáticos do HIAE.

Investimentos em transplantes

A transferência desse paciente para São Paulo é um recente capítulo que soma aos recentes esforços que a Sespa tem feito para aperfeiçoar as ações que envolvem transplantes no Pará. Em outubro passado, a Secretaria ampliou o serviço médico especializado para a realização de diagnóstico de morte encefálica em todos os hospitais da área metropolitana de Belém que notificarem potenciais doadores à Central Estadual de Transplantes (CET) da Secretaria.

A medida possibilita a realização do exame complementar através de doppler transcraniano e/ou eletroencefalograma em casos reportados à CET da Sespa, conforme determinam os protocolos de diagnóstico de morte encefálica contidos na Resolução 2.173/2017, do Conselho Federal de Medicina (CFM). A iniciativa potencializa a captação de órgãos em hospitais onde não era possível realizar aquele tipo de diagnóstico, imprescindível para doação de órgãos.

“Dessa forma, a Sespa passou a dar apoio aos hospitais notificantes de potenciais doadores, oferecendo através da Central de Transplantes esse novo serviço de realização do exame complementar e que traz ganhos significativos na assistência a pacientes neurocríticos”, destaca Anderson Brito, gerente da Central Estadual de Transplantes.

De acordo com a Resolução do CFM, deve ser registrado, em prontuário, um Termo de Declaração de Morte Encefálica com a descrição dos elementos, como a identificação e registro hospitalar do paciente, definição da causa do coma e a verificação de outros parâmetros clínicos.

“O paciente deve ser submetido a dois exames neurológicos que avaliem a integridade do tronco cerebral. Estes exames são realizados por no mínimo dois médicos diferentes não participantes das equipes de captação e transplante. Após o segundo exame clínico, é realizado um exame complementar que demonstre ausência de perfusão sanguínea cerebral; ou ausência de atividade elétrica cerebral; ou ausência de atividade metabólica cerebral”, explica Anderson Brito.

Ele ainda ressalta que, desta forma, o exame complementar é um método de diagnóstico por imagem imprescindível para a confirmação da morte encefálica, e somente após o diagnóstico, a família deve ser consultada e orientada sobre o processo de doação de órgãos.

Em caso de morte encefálica podem ser doados vários órgãos, mas no Pará só é possível, por enquanto, realizar captação de rins, córneas, fígado e válvulas cardíacas.

Atualmente o Pará realiza transplante de rim, tecidos oculares (córnea e esclera) e medula óssea. E até o final deste ano a meta da Sespa é iniciar o transplante de fígado. “É importante que os profissionais da saúde e a população paraense se sensibilize com a causa da doação de órgãos, para que os transplantes sejam realizados. Para ser doador de órgãos basta avisar a família, pois é a família que autoriza a doação de seus parentes falecidos”, esclarece a coordenadora da Central de Transplantes da Sespa, Ierecê Miranda.

Até o momento, 445 pessoas aguardam por um rim no Pará e outras 1.169 esperam por córneas. Muito em função da pandemia, doações e transplantes estiveram em níveis reduzidos no Estado. Em 2020, somente cinco pessoas doaram órgãos e outros 32 doaram córneas. No mesmo ano, foram realizados 189 transplantes de córnea e outros 15 de rins.

Entre janeiro e setembro deste ano, somente quatro pessoas doaram órgãos e outras 10 doaram córneas. No mesmo período, foram realizados 156 transplantes de córnea e outros 16 de rins.

Atualmente, a Central Estadual de Transplantes da Sespa  conta com Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTTs) nos seguintes estabelecimentos: Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (Ananindeua), Hospital Ophir Loyola (Belém), Instituto Médico Legal (IML – Belém), Hospital Pronto Socorro Municipal Mário Pinott (Belém), Fundação Santa Casa de Misericórdia (Belém), Hospital Regional do Baixo Amazonas (Santarém) e Hospital Municipal de Santarém. Outros estabelecimentos de saúde públicos e privados estão em fase de implementação.