Usuários com deficiência retomam a canoagem como prática associada à reabilitação e inclusão

Usuários com deficiência retomam a canoagem como prática associada à reabilitação e inclusão

05/12/2021 Off Por Roberta Vilanova

A canoagem é praticada por 25 usuários com deficiência física, intelectual, auditiva e visual, assistidos pelo CIIR

A gestão do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR) retoma a prática de canoagem na reabilitação da pessoa com deficiência. A atividade estava suspensa desde o pico da pandemia da Covid-19. O encontro foi na última sexta-feira (3), em alusão ao Dia Internacional da Luta das Pessoas com Deficiência, e reuniu um grupo de 13 usuários, ansiosos para voltar à canoagem que tem significativa importância no processo de reabilitação.

No mês dedicado às conquistas da PcD a equipe do CIIR volta a oferecer a atividade que envolve três modalidades: canoagem com canoa havaiana que pode ser praticada individualmente ou de forma coletiva. A canoa caiaque pode ser individual duplo. O Stand Up Paddle (SUP) é o diferencial. Trata-se de uma modalidade onde originalmente se praticava o remo em prancha em pé e com remo de pá larga para se locomoverem. No CIIR, essa prancha, é adaptada e mede cerca de 2,30 m por 130m,  com uma cadeira de rodas em cima.

Com uma localização privilegiada, às margens da Baia do Guajará, o Centro Reabilitação disponibiliza, desde 2019, essa modalidade esportiva como ação inovadora e inclusiva na reabilitação de Pessoas com Deficiência (PcD). A ação faz parte do projeto social desenvolvido no centro. “Meninos do Rio”, inspirado em projetos que já realizam atividades terapêuticas e de inclusão na água.

Os usuários envolvidos no projeto do Centro Integrado de Reabilitação são selecionados pela equipe multiprofissional da instituição

De acordo com o educador físico, integrante da equipe multiprofissional do CIIR, João Mário Lima Rodrigues, os benefícios da canoagem aos usuários PcD, são vários, entre eles, o controle de tronco, controle motor, fortalecimento muscular, socialização com outros usuários. “O esporte como forma de reabilitação é transformador. Então unimos o útil ao agradável. O projeto foi idealizado há dois anos”.

Atualmente, o esporte é praticado por 25 usuários com deficiência física, intelectual, auditiva e visual. Inicialmente, a retomada da atividade, o esporte será oferecido duas vezes ao mês, mas a tendência é aumentar a quantidade da terapia que é realizada em área integrada ao CIIR.

Os usuários envolvidos no projeto são selecionados pela equipe multiprofissional do CIIR, que indica a necessidade da atividade, assim como também avalia a disponibilidade para participar dessas modalidades esportivas.

Reginaldo Nascimento, 62, (primeiro da 1ª canoa), sofreu amputação do pé, mas hoje se sente independente

Uma ação transformadora. O termo cabe muito bem à vida do aposentado Reginaldo Nascimento, 62, que foi encaminhado para atendimento no CIIR, logo após sua inauguração, e que hoje é um dos integrantes da canoagem. “Eu tive que amputar o pé direito. Cheguei aqui como cadeirante, não andava sozinho e sem auxílio. Vim para cá com expectativa de melhoria de qualidade de vida, e eles me deram. Com o tratamento na reabilitação, ganhei minha prótese do pé e hoje ando sem cadeira de rodas, tenho independência e faço canoagem com meus colegas. Aqui atendimento é espetacular. É maravilhoso reencontrar os colegas de assistência. Só tenho gratidão”.

Além da vontade de participar da canoagem, como uma terapia alternativa associada ao atendimento convencional oferecido pelo CIIR, a educadora Física Mayara Moreira, esclarece que a canoa é adaptada para atender usuários de todos os tipos de deficiência, por exemplo, para usuário com traumatismo raquimedular, um banquinho, especialmente, produzido pela reabilitação é encaixado na embarcação, com as faixas  necessárias para garantir controle de tronco para viabilizar as remadas efetivas e com segurança.

“O usuário precisa ter vontade de participar do projeto Meninos do Rio e a   equipe tenta viabilizar a realização desse sonho. Ela revela que alguns querem mas, têm medo. Diante disso, a equipe trabalha, gradualmente, para passar segurança aos usuários, com uma preparação prévia em piscina no próprio CIIR”.

No entanto, Mayara cita alguns cuidados necessários. “O usuário deve ter  controle de cabeça e a gente consegue fazer as demais adaptações, isso para usuários com deficiência física. Já, os usuários com deficiência intelectual é necessário que ele atenda os comandos. Os deficientes visuais são livres. Temos a experiência de vendar os olhos dos outros participantes para terem a mesma sensação que o visual. É uma dinâmica incrível. A  interação é ótima”.

O aposentado, Luiz Otávio Cardoso Mendes, 70, é um exemplo prático disso. Com baixa visão, ele tem 80% da vista esquerda comprometida causada por degeneração de mácula na retina. Ele recebe assistência em reabilitação visual. Ele afirma que a vista do lado direito é melhor. “Após atendimento aqui, minha saúde visual melhorou. Na reabilitação aprendi como conviver com as dificuldades visuais diárias, vestir roupas, andar nas ruas sozinho”.

Hoje, ele faz parte do grupo de canoagem do CIIR e lamentou muito o tempo de suspensão da atividade por causa da pandemia. E ficou muito feliz com seu retorno. “Isso me faz muito bem, me reabilito, encontro com os colegas. Espero que nunca acabe. Há dois anos estou no grupo. Na canoagem, ao ver Belém do rio é maravilhoso. Já fomos até Icoaraci, no Ver-o-Rio. No trajeto, também recebemos informações sobre a história de Belém e seus monumentos na orla da cidade”.

Não menos feliz com a retomada da canoagem, a diretora Executiva do CIIR, a enfermeira Paola Reyes, não esconde a emoção deste momento tão especial. “É um momento de muita emoção, alegria de ver os pacientes retornando à canoagem. É um dia de confraternização, de atividade física, contato com a natureza. Há muita expectativa, tanto nossa, quanto deles. É um momento de muita superação. Tem pessoas aqui que nunca imaginaram praticar esse tipo de atividade. Fico feliz em o CIIR possibilitar descobertas e  estimular que cada um encontre suas potencialidades. É uma troca constante entre pacientes e equipe multiprofissional”.

Dados de atendimentos – Atualmente a equipe multiprofissional do CIIR atende, mensalmente, cerca de 1.200 pacientes em reabilitação e assegura mensalmente, cerca de 32 mil atendimentos gerais na assistência, entre procedimentos na reabilitação, exames, consultas. Atividades terapêuticas e de inclusão na água.

Estrutura de atendimento – Os usuários podem ter acesso aos serviços por meio de encaminhamento das Unidades de Saúde, acolhido pela Central de Regulação de cada município, que por sua vez encaminhará à regulação estadual, onde o pedido será analisado conforme perfil do usuário, através do Sistema de Regulação.

SERVIÇO: O CIIR é um órgão do Governo do Pará, administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Sespa. O Centro funciona na Rodovia Arthur Bernardes, Nº 1000. Mais informações: 40422157 / 58 / 59.

Texto: Vera Rojas/CIIR
Fotos: Ascom/CIIR