Dia da ‘Visibilidade Trans’: Governo do Pará garante saúde para pessoas transexuais

Dia da ‘Visibilidade Trans’: Governo do Pará garante saúde para pessoas transexuais

29/01/2022 Off Por Roberta Vilanova

A intenção dos procedimentos é fazer com que a pessoa se sinta o mais confortável possível com seu corpo e consiga expressar a sua identidade de gênero

Neste dia 29 de janeiro que marca o Dia Nacional da Visibilidade Trans, o Governo do Pará reforça uma série de medidas e ações de saúde disponível na rede estadual voltada para o público a fim de garantir o direito de acesso a diversos atendimentos e tratamentos que promovem mais dignidade à população transexual do Pará.

As unidades do Estado atendem a pessoas que apresentam disforia (incômodo) ou incongruência de gênero, ou seja, uma incompatibilidade entre a sua identidade de gênero e o sexo que lhe foi atribuído ao nascimento. A intenção dos procedimentos é fazer com que a pessoa se sinta o mais confortável possível com seu corpo e consiga expressar a sua identidade de gênero.

Os procedimentos podem envolver somente tratamentos hormonais ou procedimentos cirúrgicos, isso varia de pessoa para pessoa. No entanto, a realização ou não de cirurgias ou tratamentos hormonais não faz uma pessoa “mais” ou “menos” trans.

Todo processo começa nas unidades básicas de saúde e se estende ao tratamento hormonal, acompanhamento psicológico e pode chegar até cirurgia, tudo de forma gratuita. Esse processo transexualizador compreende uma série de cuidados em saúde direcionados à população Trans que é traduzida em um conjunto de estratégias e procedimentos assistenciais que auxiliam na transição de gênero. O procedimento pode ser todo realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e foi redefinido pela Portaria nº 2.803, do Ministério da Saúde.

Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e Parasitárias Especiais (Uredipe)

Unidades especializadas do Estado – O Ambulatório Transsexualizador instalado na Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas Parasitárias Especiais (URE DIPE), oferece acompanhamento multiprofissional para a pessoa que busca a transição entre gêneros. Lá, os pacientes têm acesso a diversos profissionais, como de Psicologia, Assistência Social, Fonoaudiologia, Nutrição, Endocrinologia e Ginecologia, além de exames laboratoriais, exceto os hormonais.

De acordo com Cláudio Levi, coordenador da URE DIPE, o Ambulatório Transsexualizador instalado na unidade, oferece acompanhamento multiprofissional para a pessoa que busca a transição entre gêneros. “Após dois anos de acompanhamento, estando apta e se for do interesse, a pessoa é encaminhada à cirurgia de histerectomia, mamoplastia masculinizadora ou feminilizadora, de acordo com cada caso. Ao ambulatório cabe direcionar e acompanhar o processo de transição das pessoas que o procuram, dando os devidos suportes”, esclarece.

Após o primeiro acolhimento pela equipe multidisciplinar, caso seja do desejo do paciente e caso ele esteja preparado, há o encaminhamento para o Hospital Jean Bitar, onde o paciente poderá realizar procedimentos cirúrgicos. De forma inovadora na região Norte, o Ambulatório de Transgêneros do Hospital Estadual Jean Bitar foi criado em 2017 para descentralizar atendimentos para pessoas trans fora do eixo São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás, com o objetivo de oferecer cirurgias de redesignação sexual.

A Unidade compreende atendimentos de endocrinologia com acompanhamento de hormonioterapia; serviços de cirurgia plástica (acompanhamento pré e pós-operatório) para colocar próteses mamárias de silicone das mulheres trans e mastectomia masculinizadora para os homens trans; serviço de ginecologia que realiza cirurgia de histerectomia e salpingo-ooforectomia bilateral (retirada de útero, ovário e trompas) dos homens trans, além do acompanhamento psiquiátrico.

Flávia Cunha, médica endocrinologista e coordenadora do Ambulatório Trans do HJB

Desde a criação, o ambulatório já realizou 23 procedimentos cirúrgicos, sendo 10 mastectomias, 10 colocações de prótese mamária e três histerectomia com anexectomia. Além disso, a equipe mantém o atendimento de 71 pacientes em acompanhamento.

“Muitas pessoas trans não têm condições financeiras de patrocinar esse tratamento, visto que é um tratamento crônico e por toda a vida. Mas, além da importância da economia financeira para os pacientes, vejo de forma ainda mais positiva a sensibilidade do Estado em apoiar esse serviço, entendendo que essas pessoas precisam ser acolhidas e tratadas. Quando isto não ocorre, os riscos de depressão e suicídio se intensificam”, diz Flávia Cunha, Cunha, médica endocrinologista e coordenadora do Ambulatório Trans do HJB.

Para garantir a assistência psicológica, o Governo também oferece o acompanhamento com o profissional da área. Segundo Flávia, esse serviço é oferecido na Ure Dipe, que trabalha em parceria com o HJB – onde o foco principal é o tratamento hormonal e cirúrgico. “Muitos pacientes chegam com histórias de terem sofrido várias formas de violência: física, sexual, psicológica, etc. A aceitação familiar faz toda diferença no âmbito psicológico desses pacientes”, pontua.

Caio Lucas elogia o tratamento que recebe no SUS

Caio Lucas é paciente que faz acompanhamento hormonal da rede pública. Ele buscou ter acesso a consultas para o tratamento. O atendimento começou pelo médico clínico, em seguida, foi direcionado a exames até a fase os medicamentos. Para ele, todo o processo tem sido importante. “Ter acesso a tratamentos e consultas para seguir com a transição pelo SUS é uma dádiva, porque eu sei o quão caro pode ser procurar esses tratamentos em empresas privadas. Ter esse acesso a consultas me proporcionam saúde, dignidade e a chegar cada vez mais perto do meu objetivo em relação a aparência nessa transição, que é algo muito importante pra mim. Eu sou muito grato”, afirma.

á dois anos, Barbara Oliveira, mulher trans é atendida pelo Ambulatório do HJB e URE DIPE. Ela é acompanhada por endocrinologista, passa por exames e recebe acompanhamento psicológico. Para ela, os serviços ofertados são de qualidade e grande importância para a saúde. “É um atendimento de qualidade e humanizado. Me sinto super privilegiada porque é um serviço de saúde que não tem em todo o país. Me sinto super acolhida, os profissionais são excelentes, todos nos tratam muito bem. Um serviço de qualidade que oferecem a população trans”, comenta.

Texto: Michelle Daniel/NGTM

Fotos: Ricardo Amanajás/Pedro Guerreiro e Alex Pinheio/Ag. Pará