Dia do Orgulho Autista incentiva reconhecimento de habilidades

Dia do Orgulho Autista incentiva reconhecimento de habilidades

18/06/2021 Off Por Roberta Vilanova

Neste 18 de junho, celebra-se o Dia do Orgulho Autista, uma data marcante para conscientizar a sociedade sobre a valorização das pessoas neurodiversas, dentro do Espectro do Transtorno Autista (TEA). O Pará tem avançado no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a população diagnosticada e seus familiares, reestruturando a rede de atendimento e parcerias entre Estado e Municípios.

Nayara Barbalho, coordenadora Estadual de Políticas para o Autismo, destaca a relevância da mobilização. “Essa data é muito importante! Foi implementada pela organização norte-americana Aspies for Freedom, para que as pessoas fossem valorizadas, aceitas, incluídas, da forma como são, neurodiversas”, explica a gestora.

Ela aponta a necessidade primordial de que a neurodiversidade seja reafirmada pela própria família e em segundo passo, frente à sociedade. “Temos ainda muitos relatos dessas dificuldades no próprio seio familiar. Não há o que ser modificado. Não há o que ser curado. E sim, o ambiente deve se adaptar, ser acessível para as pessoas neurodiversas”, salienta Nayara.

Mercado de Trabalho – O pesquisador cientista, James Thiago Leite Cruz, 31 anos, foi diagnosticado, aos 28, com autismo grau leve. “Depois de passar por uma temporada morando sozinho na Europa, que gerou crises depressivas, o que me levou a pesquisar sobre o que eu sentia e descobri que, me enquadrava perfeitamente no TEA. As políticas atuais são boas, úteis e importantes, mas ainda não atingem a toda a população autista”, afirma James.

Entre as dificuldades, ele aponta a valorização de habilidades no mercado de trabalho. “As empresas, em geral, ainda não aderem plenamente à contratação de pessoas autistas, apesar dos estímulos governamentais. Mesmo com minhas qualificações, não me encaixo nos padrões exigidos pelo RH (setor de Recursos Humanos), para trabalhar na minha área. Logo, isso indica que mais do que legislar para promover a inclusão, seria importante atuar pressionando empresas e incentivando a adequar processos seletivos. Afinal, há autistas bem qualificados que podem exercer tarefas de gestão e comando, embora possam não passar pelo filtro do RH porque o padrão das seletivas é Neurotípico. E quando há vagas para autistas, são para trabalhos de menor complexidade e qualificação”, sinaliza o pesquisador.

Para Nayara, todos os profissionais possuem dificuldades e ocupam postos de trabalho em virtude de suas habilidades. “Os autistas possuem habilidades que precisam ser inseridas. Nós, enquanto Governo do Estado, temos trabalhado para reverberar as habilidades. Posso citar algumas, por exemplo, como o fato de serem pessoas muito atenciosas a detalhes; metódicas; hiperfocadas nas missões que se identificam; comprometidas com horários e prazos; criativas. São habilidades que devem ser aproveitadas no mercado de trabalho”, pontua.

James acrescenta que a diversidade no mercado de trabalho, precisa ir além do ativismo social de outras bandeiras. “As pessoas com deficiência são, invariavelmente, esquecidas. E os autistas são ainda mais marginalizados, visto que têm uma deficiência invisível. E barreiras atitudinais são as mais difíceis de superar”, acredita.

Para o pesquisador, a mobilização do Governo do Estado, auxilia a diminuir essas disparidades. “Nunca antes os autistas receberam tanta atenção no Estado do Pará. Tanto as políticas de incentivo à empregabilidade, quanto atenção à saúde, são divisores de águas nas vidas de milhares de famílias paraenses. Apesar de ainda não ter me beneficiado dessas políticas, sou imensamente grato pois, muitas pessoas se beneficiam. E quando um autista é empoderado, toda a comunidade também o é”, enfatiza.

Conquistas – Uma série de providências já tomadas pelo Governo do Estado, em mais de três anos, por meio de ações inclusivas, integra a Política Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Peptea), instituída pela Lei nº 9.6061, sancionada em maio de 2020, pelo governador Helder Barbalho.

A mais recente delas, foi a implantação e funcionamento do Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista (Natea), no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém, que já conta com mais de 300 pacientes atendidos.

“Identificamos um déficit de profissionais que atendem os autistas. O Natea atende a todas as idades, mas precisamos destacar que existe uma rede de atendimentos que deve se responsabilizar. Nós estamos fazendo esse trabalho de reestruturar a rede na parceria entre estado e municípios”, pontua a coordenadora Nayara.

A estudante Layza da Costa Moraes, 19 anos, foi diagnosticada com autismo moderado aos sete. “Vejo as políticas públicas do governo Hélder, como um marco histórico no reconhecimento, na valorização, no respeito, na empatia, no olhar para com as pessoas autistas. O olhar carinhoso, engrandece a autoestima e valoriza o autista e a família, a seguirem quebrando as barreiras do preconceito existente na sociedade”, acredita a estudante.

Ela participou do Festival TEAlentos, realizado em abril, que buscou reverberar habilidades artísticas e esportivas. “A iniciativa foi maravilhosa e enternecedora. O festival fez com que muitos muros fossem quebrados, olhares diferentes do Pará para com todos”, avaliou a jovem.

Parcerias – A Escola de Governança do Estado (EGPA), disponibilizou formações para servidores públicos, municipais e estaduais, de sete municípios correspondentes às regiões de saúde do Estado. Em 2021, outros municípios receberão a qualificação.

Já a Universidade do Estado do Pará (Uepa), iniciou, em 2020, a primeira especialização em autismo do Estado do Pará, com 350 vagas. Ao longo deste ano, a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), deve realizar capacitações de professores e familiares em sete municípios e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), desenvolverá qualificações voltadas ao empreendedorismo de jovens e adultos com autismo, para o ingresso no mercado de trabalho.

Identidade – Entre os instrumentos de incentivo ao orgulho autista, está a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), emitida pela Sespa, em 2020. A primeira remessa beneficiou 380 usuários. Mais de 4 mil identidades já foram entregues. Com o documento, as pessoas com autismo, passam a ter prioridade no atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. No caso dos particulares, isso inclui supermercados, bancos, farmácias, bares, restaurantes e lojas em geral. A carteira também propiciará a primeira base de dados sobre o autismo no Pará.

Texto: Dayane Baía/Secom

Foto: Divulgação