No Hospital Abelardo Santos, mulheres estão no comando, no cuidado e na assistência

No Hospital Abelardo Santos, mulheres estão no comando, no cuidado e na assistência

07/03/2024 Off Por Roberta Vilanova

Em vários setores, as profissionais de saúde reforçam a importância dos serviços oferecidos na rede pública

Não foi uma tarde de segunda-feira comum. Foi mais um dia frenético na luta contra um vírus desconhecido, que despertava medo e angústia na população do planeta. No dia 4 de maio de 2020, a enfermeira Keiza Trindade atuava na linha de frente no combate à pandemia de Covid-19, no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), no distrito de Icoaraci, em Belém, quando teve de administrar mais uma situação desafiadora na carreira.

Uma mulher em trabalho de parto estava em um carro, à porta do Hospital, no atendimento exclusivo a pacientes com suspeita de infecção pelo coronavírus. Apesar de haver o risco de exposição ao contágio, a grávida Elizieth Pinto da Silva não teve opção a não ser pedir ajuda no HRAS.

“Quando eu entrei no veículo e fiz o toque nela, vi que não tinha como chegar ao outro hospital naquele momento. Foi muito rápido. O carro entrou e ficou ali mesmo no estacionamento. Eu falei: vai dar tudo certo. Eu sou enfermeira e vou te ajudar. Quando vier a contração, você faz força”, recordou a enfermeira Keiza.

Realização – De uma família de mulheres que consolidaram trajetórias na área da saúde, a enfermeira Keiza Trindade, 38 anos, destacou nesta quinta-feira (7) ter encontrado sua realização pessoal e profissional. Formada desde 2009, ela atua na área da saúde há 15 anos, sendo quatro no “Abelardo Santos”.

“Eu sempre quis trabalhar com a saúde pública. Já me sinto realizada em ser mulher e poder trabalhar na profissão que escolhi. Agora, estou no setor de cuidados com a pele, onde junto com a equipe podemos proporcionar qualidade de vida, bem-estar e muitas vezes diminuir o período de permanência das pessoas dentro das enfermarias. Amo o que faço”, disse a enfermeira.

Com uma alegria expressa até no olhar, Ruth Almeida, 40 anos, trabalha no refeitório do HRAS há mais de dois anos, zelando pelas refeições servidas na unidade. Para ela, é uma honra cuidar de quem cuida. “Eu faço tudo com carinho, atendo profissionais, mãezinhas que almoçam aqui. Gosto que as pessoas sintam esse cuidado na hora da sua alimentação, pois é um momento muito importante. Sempre gosto de receber eles com sorriso espalhando toda minha simpatia”, contou Ruth.

HRAS é cenário para histórias de superação, força e determinação de profissionais que atuam em vários setores

Elas no comando – As mulheres são a principal força de trabalho no setor da saúde no Brasil, conforme dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  No “Abelardo Santos”, elas também ocupam um lugar de destaque, e são mais de 80% do quadro funcional. Um grande exemplo é a direção da unidade formada, exclusivamente, por mulheres.

A mais nova na equipe é Aline Oliveira, administradora de empresas pela Universidade Salvador, especialista em Business Studies pela California State University, em San Francisco, Califórnia (EUA). Ela é a diretora-geral da unidade desde julho do ano passado.

“Ser mulher e liderar o serviço de mais de 2 mil profissionais, diretos e indiretos, em um setor que é tão sensível como a saúde pública, é um desafio diário, que carrego com orgulho e afinco, para levarmos à população uma assistência de qualidade e assertiva”, frisou Aline Oliveira, que tem ampla experiência em gestão e docência.

Responsável pelos profissionais da enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos e nutricionistas, a enfermeira Renata Oliveira é a diretora Assistencial do HRAS. “A enfermagem é o coração da assistência. Para aliar a técnica à gestão, é necessário ter uma visão holística para mitigar riscos, executando as legislações vigentes e captando recurso humano para o serviço. Exige muito, sem falar de metas ousadas pré-estabelecidas”, disse Renata, que começou na unidade como responsável pelo setor da Qualidade, até ocupar o cargo institucional da Mais Saúde, Organização Social que administra o “Abelardo Santos”.

A força da mulher está em todos os setores do Hospital

Mais médicas – Apesar da saúde pública ser predominantemente ocupada por mulheres, com mais de 60% delas nas funções, segundo o IBGE, a garra, o estudo e a determinação vêm mudando esse cenário. A sexta edição da Demografia Médica no Brasil 2023 aponta que o fenômeno da “feminização” da profissão já vinha sendo observado desde 2009 entre os recém-graduados, mas ainda havia, no total, 59,5% de homens e 40,5% de mulheres.

Em 2022, a proporção foi de 51,4% de médicos e 48,6% de médicas. Para 202,4 a projeção é de que 50,2% do total de médicos no País sejam mulheres.

A médica nuclear Bárbara Freire já atuou no serviço de ambulância, de urgência e emergência e ambulatório, até chegar à Direção Técnica do maior hospital do Pará. “Essa oportunidade é única. Quando se é mulher, todas as profissões se tornam mais desafiadoras, e na medicina não é diferente. Temos lutas diárias para conquistar nosso espaço e garantir nossos direitos, respeitando o próximo e a vida, sobretudo”, reiterou Bárbara Freire.

Texto: Ascom/HRAS