Profissionais do ‘Abelardo Santos’ orientam estudantes sobre prevenção à gravidez na adolescência

Profissionais do ‘Abelardo Santos’ orientam estudantes sobre prevenção à gravidez na adolescência

08/02/2022 Off Por Roberta Vilanova

As atividades que buscam informar e conscientizar os jovens são desenvolvidas em escolas públicas e privadas, no distrito de Icoaraci

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a adolescência como a fase iniciada aos 10 anos, com término aos 19, caracterizada como o período em que os jovens passam por muitas dúvidas e incertezas em diversas áreas, incluindo a vida sexual e reprodutiva. Um assunto que chama a atenção dos profissionais do Serviço Social e Psicologia do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), localizado em Icoaraci, distrito de Belém.

Em visita a escolas públicas e privadas do distrito, eles promovem rodas de conversas e dinâmicas para orientar os estudantes sobre os riscos de atividade sexual precoce e gravidez neste momento da vida.

A programação da unidade integra a campanha nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, instituída pela Lei 13.798/2019. A iniciativa, que prevê uma semana de programação no País, foi incorporada ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e está em vigor desde 2019, para orientar e conscientizar os jovens. O objetivo da campanha é levar orientações sobre medidas preventivas e educativas que contribuem para a redução da incidência de gravidez na adolescência.

Temática – A programação incluiu roda de conversa sobre as consequências da gravidez na adolescência. Dentro da temática, também foram discutidas questões físicas e emocionais nesta fase; os impactos nos estudos e o ingresso no mercado de trabalho. Também é enfatizada a conscientização do adolescente do sexo masculino sobre suas responsabilidades compartilhadas com a mulher.

A dinâmica ocorreu por meio da atividade “Cápsula do Tempo”. A ação levou os alunos a escreverem uma carta ao seu “eu” do futuro, contando seus desejos e anseios para os próximos anos, e a análise de um estudo de caso de uma jovem que engravidou precocemente.

São realizadas rodas de conversas e dinâmicas para orientar os estudantes sobre os riscos de atividade sexual precoce e gravidez na adolescência

Diálogo – A estudante do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Avertano Rocha, Vitória Lima, 14 anos, participou do bate-papo e frisou a importância de os adolescentes terem esse tipo de diálogo em casa, também. “Eu achei muito bom abordar esse tema. Na minha casa sempre converso com a minha mãe, mas tem meninos e meninas que os pais não conversam”, disse a estudante.

Chrisfen Cutrim, 16 anos, também aluno do 9º ano no “Avertano Rocha”, contou que não tem o costume de conversar sobre o assunto. “Às vezes, ficamos com vergonha de falar com os nossos pais. Mas vou tentar me abrir mais com os meus. Tenho alguns amigos que começaram a se relacionar muito cedo, e hoje já estão vivendo outra fase”, destacou.

Para a diretora da instituição de ensino, Viviane da Costa, a parceria é sempre bem-vinda, por debater com mais profundidade temas que a escola consegue abordar somente superficialmente. Ela ressaltou o apoio de profissionais de diversas áreas e capacitados para conversar sobre assuntos específicos. “Eu achei maravilhoso o Hospital Abelardo Santos ter se colocado à disposição para esse trabalho de orientação, tirando aquela imagem que hospital só serve para doente, nos mostrando que lá, também, podemos buscar ajuda em relação à prevenção”, frisou Viviane da Costa.

Exemplo familiar – Durante a palestra na Escola Madre Celeste, a aluna Maria Heloise de Almeida, 14 anos, do 8º ano, lembrou que esse tipo de situação pode acontecer com pessoas próximas, como foi o caso de sua prima, que engravidou com apenas 13 anos e teve problemas emocionais. “A falta de informação prejudica muito. E foi o que aconteceu com a minha prima, por isso temos que nos informar, cuidar e prevenir”, observou.

Atento às orientações, o aluno do 8º ano Kayky Silva, 14 anos, interagiu bastante durante a dinâmica, que abordou o estudo de caso de uma adolescente que descobriu estar grávida e pediu conselhos a um amigo sobre como proceder. “Esses momentos são importantes para conscientizar os adolescentes. É preciso falar sobre o assunto, e os professores e os profissionais são ótimos para isso”, disseKayky Silva.

Para a coordenadora de Educação Infantil da Escola Madre Celeste, Patrícia Lisboa, esse tipo de iniciativa educativa é primordial também para informar esse público sobre prevenção e direitos de proteção. “É preciso ressaltar que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”, reiterou.

A analista de Humanização do HRAS, Suellen Santos, informou que além das duas escolas o tema será abordado dentro do hospital. “Vamos reforçar o acolhimento a essas jovens por meio de treinamento voltado aos colaboradores, e apresentar a proposta do planejamento familiar para essas mulheres, ainda neste mês”, adiantou.

Dados – No Brasil, o índice de gravidez na adolescência é significativo. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a taxa é de 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes entre 15 e 19 anos. Isso representa quase 50% a mais do que a média mundial, estimada em 46 nascimentos.

Diante desses dados, a psicóloga Amanda Vasconcelos ressaltou a importância de debater o tema dentro e fora do HRAS. “As atividades planejadas pelo Grupo de Trabalho de Humanização têm o intuito de difundir informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência de gravidez na adolescência, proporcionando orientações que capacitem jovens e adolescentes ao exercício da vida sexual e reprodutiva, com base em comportamentos mais autônomos, para que possam tomar decisões responsáveis, auxiliando na construção de projetos de vida”, explicou.

Para Marcos Silveira, diretor Executivo do Hospital Abelardo Santos, a iniciativa visa contribuir para a criação de uma sociedade mais esclarecida, com igualdade de oportunidades. “No Pará, o ‘Abelardo’ já é a segunda maior maternidade. Constantemente percebemos um número significativo de mulheres com menos de 18 anos sendo mãe. Mensalmente, do total de parturientes que recebemos no HRAS, temos uma média de 12% que estão na faixa etária considerada como adolescentes. Dessa forma, a equipe de profissionais vem se empenhando em alertar esses adolescentes e suas famílias, já que o assunto se tornou um debate de políticas públicas e de saúde em todo o mundo”, destacou o gestor.

Referência – A maior unidade pública do Governo do Pará é administrada pelo Instituto Mais Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

A rotina da unidade reflete o panorama nacional: em média, 36 mulheres com menos de 18 anos dão à luz na unidade a cada mês, o equivalente a 12% dos partos feitos na unidade. Em 2021, esse número chegou a 433 partos, entre naturais e cesárias.

Texto: Roberta Paraense /HRAS

Fotos: Divulgação