Projeto do Hospital Oncológico Infantil ajuda pais que perderam filhos para o câncer

Projeto do Hospital Oncológico Infantil ajuda pais que perderam filhos para o câncer

06/11/2022 Off Por Roberta Vilanova

O objetivo de ajudar mães e pais que já não têm os filhos presentes devido ao câncer

Perder um ente querido não é nada fácil, é preciso mover forças para encarar as diversas fases que envolvem o luto, mas que fazem parte do processo da aceitação das perdas. Reações como crises de choro, raiva, e tristeza são comuns, porém necessárias e esperadas. Mas como lidar com a perda de um filho?

Esse conflito levou o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), a criar o projeto “Flores no Caminho”, com o objetivo de ajudar mães e pais que já não têm os filhos presentes devido ao câncer. Idealizado pela equipe de Cuidados Paliativos, em parceria com a Humanização, o projeto reuniu familiares de crianças e adolescentes que foram pacientes da instituição, neste sábado (05), no Sítio Carol, localizado na Br.

Mais de 20 pessoas participaram do momento de acolhimento, por meio de uma roda de conversa e dinâmicas, em que foi possível ouvir o depoimento, tanto dos tutores de enfermos que foram a óbito quanto das equipes que o assistiam. Esse é o terceiro encontro presencial, dada a interrupção ocasionada pela pandemia em que as famílias foram assistidas via telemedicina.

A médica paliativista do Hoiol, Patricia Carvalho, explica que o cuidado paliativo visa o atendimento especializado de toda a pessoa que tem uma doença ameaçadora da vida,  a partir do momento do diagnóstico. Essa atenção também é estendida aos familiares que,  diante do luto, são acompanhados por médico e psicólogo.

“O projeto surgiu para dar apoio a essas famílias e ajudá-las a externalizar esse sentimento e o mecanismo de enfrentamento encontrado para levar a vida adiante. Mais importante do que a equipe assistencial ofertar esse empoderamento, é fazer com que eles compartilhem as vivências uns com os outros. Sentimentos que os acometeram naquele momento, para que passem a se enxergar como pares, realmente”, disse.

Projeto ajuda Cleide Louzada a superar a perda do filho adotivo

Entre os diversos depoimentos, os presentes ouviram o  relato da dona de casa, Cleide Louzada, 43 anos. Ela perdeu o filho Jerllyson Oliveira de Paula, a quem conheceu quando acompanhava a filha biológica em tratamento do câncer,  realizado no Hospital Ophir Loyola, à época.

O menino tratava uma leucemia T, geralmente fatal e que não responde à quimioterapia, e já tinha um quadro de saúde bastante delicado. Em 2015, a oncologia pediátrica foi transferida para o então inaugurado Hospital Oncológico Infantil, que passou a atender, exclusivamente, crianças e adolescentes de 0 a 19 anos incompletos. Cleide adotou o menino, o amor maternal nasceu e frutificou, levando-a a oferecer todo o zelo e carinho durante a curta trajetória de Jerllyson.

“Em vida, ele teve cinco recaídas, faz um ano e oito meses que partiu, mas continua vivo dentro de mim. Meu filho teve uma história de muita luta e superação, enfrentou as várias sequelas  causadas pelo câncer, a cegueira, a surdez.  Mas antes de perder a visão, lançou o livro ‘Minha História’, onde contou a história de vida dele para servir de incentivo para outras crianças que pensavam em desistir do tratamento. A fé e a vontade de viver que ele tinha, ajudam-me a seguir em frente. Um pedaço de mim partiu. Todos os dias preciso me encontrar de novo, porque tenho mais dois filhos que necessitam de mim”, disse.

A psicóloga Juliana Morgado afirma que o usuário é acolhido desde o momento da entrada, quando ainda está investigando a doença. O nosso paciente é acompanhado durante todo esse processo, pelas equipes de cuidados paliativos e de oncopediatria.

“As famílias e pacientes necessitam ser acolhidos,  precisamos estabelecer um vínculo para cuidar dos aspectos físicos, sociais, emocionais e espirituais dessas pessoas.  À medida que a terapêutica modificadora da doença deixa de surtir efeito, ou seja, não existe mais possibilidade de cura, ficamos ainda mais próximos, oferecendo um maior suporte que se estende ao momento do luto”, esclareceu.

A administradora Josy Campos, 42 anos, acompanhou todo o tratamento da filha Tayná contra um tumor de Wilms, câncer originado no rim, em fase avançada quando foi descoberto. Durante três anos e quatro meses, Tayná recebeu toda assistência necessária, contudo veio a óbito em abril de 2020, aos sete anos.

“Minha filha teve duas recidivas, na terceira já não havia opção de tratamento, havia feito todos os protocolos de quimioterapia e radioterapia, mas o câncer voltou numa área muito delicada, o mediastino. Também estava afetando o coração. O cuidado paliativo somou muito no tratamento, até hoje não perdi esse contato que me auxilia de muitas formas e me faz entender o quanto é necessário seguir em frente. Este momento de fala é importante, porque estamos sendo ouvidos por pessoas que sabem da nossa dor”, disse.

Texto: Leila Cruz/HOIOL

Fotos: Ascom/HOIOL