Sucesso de transplantes renais na Santa Casa devolve qualidade de vida a crianças e adolescentes

Sucesso de transplantes renais na Santa Casa devolve qualidade de vida a crianças e adolescentes

30/09/2021 Off Por Roberta Vilanova

Depois de uma pausa forçada pela

Sandro Nonato, 10, e Kayla Gabrielly Silva, 17, foram liberados para voltar para casa

da covid-19 no serviço de transplante renal pediátrico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), o serviço foi retomado e os primeiros pacientes acabam de ter alta hospitalar. As cirurgias foram realizadas, entre os dias 12 e 13 de setembro, a partir de um mesmo doador, uma criança com morte encefálica.

Na última terça-feira (28), Sandro Nonato, 10, e Kayla Gabrielly Silva, 17, foram liberados para voltar para casa, com um quadro saudável e apresentando evolução positiva dentro dos parâmetros clínicos.

O menino é de Barcarena, no nordeste do Pará, e a adolescente, de Belém. Os podem voltar a uma vida considerada “normal”, frequentando escola, sem necessidade de hemodiálise e livres para uma alimentação diversificada.

“A ideia é suprir a demanda do Pará e da região Norte; figuramos como um polo regional. Para essas famílias, transplantar no estado e na região delas, aqui, acompanhar, tratar, são um ganho imenso, porque reduzem os danos emocionais, fisiológicos e financeiros de deslocamento, de retirada do meio, de desarranjo nas estruturas familiares”, afirma o cirurgião vascular, Silvestre Savino.

A nefropediatra, Monik Calandrini, orienta que “o transplante renal é um tratamento para a doença renal crônica em crianças, não é a cura: muda de verdade a qualidade de vida e permite que a criança cresça, se desenvolva, em um nível bem aproximado do fisiológico”, destaca.

Sandro fez 10 anos de idade, dia 10 de setembro e afirma que Deus lhe deu o rim de presente 

Presente de aniversário – Portador de nefrite, Sandro Nonato comemorou 10 anos de idade, dia 10 de setembro passado. Antes de soprar a vela do bolo, ele fez um pedido secreto. No sábado imediato, a família foi avisada pela Santa Casa sobre a disponibilidade de um rim. “Eu pedi um rim para Deus e ganhei no dia seguinte”, revelou a criança. “Vou tomar uma tigela de açaí e quero aprender a ler”, completa ele.

Há dois anos e meio o estado delicadíssimo de saúde obrigou Sandro a abandonar as aulas e a mãe, a dona-de-casa, Laísa Rafaela, 29, a abandonar o cursinho pré-vestibular. Sandro não podia ultrapassar os 500 ml diários de líquidos e nem sequer consumir algumas frutas. Laísa se ocupava nos cuidados com o filho.

Na refeição de despedida, ainda dentro do hospital, Sandro saboreou uma banda de mamão. Ante a pergunta sobre a sensação, ele foi taxativo: “Hummm, delícia”. Agora, Laísa quer cursar uma faculdade na área da saúde.

Adolescente quer cursar Nefrologia  – A chance de Kayla Gabrielly se tornar nefrologista é grande. “Estou pensando bastante. Vocês são minha inspiração”, comove-se a moça, no agradecimento à equipe médica. Estudante do ensino médio, ela ainda se encontra em dúvida sobre Direito e Medicina.

A Nefrologia é uma especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim.

Após três anos e oito meses de hemodiálise, três vezes por semana, demandada pela doença renal crônica, para Kayla o tempo deixou de ser uma angústia e passou a ser generoso.

Ela se prepara para levar o sobrinho único, Davi, de 2 anos, à Disneylândia, para uma xícara de chocolate quente em uma doceria famosa e para visitar a Ilha do Combu, reduto turístico de Belém, às margens do rio Guamá.

“Não sou de me expor nas redes sociais, mas a hashtag perfeita pra uma postagem sobre o que está acontecendo seria #doeorgaos”, anima-se.

A mãe de Kayla, Elissandra Botelho, de 45 anos, começou a mirar em uma faculdade para ela própria, talvez de Serviço Social. “É como se todos estivéssemos respirando de novo”, diz.

Famílias comemoram o sucesso dos transplantes renais realizados na Santa Casa

Alta Multiprofissional – Entre a admissão preliminar no Hospital, a terapia substitutiva, o evento ilustre da alta hospitalar e a continuidade de atendimento pós-transplante, está o trabalho de mais de 50 profissionais de diferentes funções e especialidades na Santa Casa.

A Instituição é referência em tratamento renal pediátrico, desde 2019 credenciada pelo Ministério da Saúde (MS) para transplantes de rim em crianças e adolescentes de até 17 anos.

A alta hospitalar de prosseguimento ao transplante bem-sucedido é de caráter multiprofissional, com participação além dos médicos: ainda, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, entre outros peritos. Os pacientes continuam em tratamento, com consultas periódicas e medicação.

A nutricionista, Érica Maia, corroborou a prescrição dietética de modo direto com as famílias: “Orientamos dieta saudável, sem exagero, sem industrializados, o mais natural possível. Os dois primeiros meses são o período adaptativo mais crítico, então vamos acompanhando passo a passo”, pontua.

A terapeuta ocupacional, Fernanda Lobato, avalia que brincadeiras e exposição do corpo carecem de certa proteção da área abdominal nos meses iniciais: “Antes do transplante, os pacientes padeceram limitados nos movimentos, eram demais vulneráveis. Aconselhamos que, na pós-cirurgia, eles recuperem independência e segurança, mas respeitando o avanço paulatino do tratamento”, considera.

A farmacêutica, Cinthya Menezes, entregou os medicamentos para se evitar rejeição dos novos órgãos. O abastecimento será mês a mês: “São medicamentos de alto custo, da Farmácia de Componente Especializado. Entregamos, conduzimos o entendimento dos responsáveis sobre como tomar, sobre interação com outros medicamentos, sobre interação com alimentos etc., tudo em linguagem acessível e com consolidação por escrito. Se tiverem alguma dúvida, eles podem entrar em contato telefônico”, reitera.

Emocionada, a nefrologista Carolina Lisboa declarou que se considerava mais do que médica das famílias: “Virou uma amizade profunda. É bastante convivência, sofremos e festejamos juntos, cria-se um vínculo de existência inteira”, narra.

Transplantes – Outros dois pacientes foram transplantados na Santa Casa no dia 16 de setembro. Uma criança de Belém e outra, de Soure, no Arquipélago do Marajó, já tiveram alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e se encontram internadas em enfermaria, com bom restabelecimento.

Na atualidade, o Serviço de Terapia Renal Substitutiva dá suporte a quase 30 crianças e adolescentes, as quais representam a lista de espera renal pediátrica para transplante no estado do Pará.

De acordo com a médica Monik Calandrini, a preferência é por doadores falecidos, porque rins transplantados têm um tempo útil e crianças e adolescentes receptores precisarão de um novo transplante na fase adulta. Para o segundo transplante, recomendam-se doadores vivos, aparentados, com mais compatibilidade:

Para o segundo instante, existe mais vantagem em transplantes intervivos, porque os pacientes estão dessensibilizados pelo primeiro transplante e, assim, escolhemos um órgão com melhores condições, com menor risco de rejeição precoce e com mais controle sobre a função do enxerto”, fundamenta.

Texto e fotos: Aline Miranda/Santa Casa