Sespa promove treinamento sobre moluscos que transmitem doenças graves

Sespa promove treinamento sobre moluscos que transmitem doenças graves

13/11/2021 Off Por Roberta Vilanova

Participantes da capacitação no auditório do Instituto Evandro Chagas

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) realizou, de 8 a 12 de novembro, no auditório do Instituto Evandro Chagas (IEC), capacitação em Malacologia Básica, com enfoque em moluscos de importância médica e veterinária. A iniciativa reuniu técnicos dos municípios de Ananindeua, Belém, Bragança, Capanema, Marituba e Quatipuru, além de técnicos do 1º e 9º Centros Regionais de Saúde.

O treinamento foi organizado pelo Departamento de Controle de Endemias, por meio da Coordenação Estadual de Controle de Esquistossomose, Filariose, Geo-helmintos e Tracoma, com o objetivo de fortalecer as ações de vigilância e controle dos vetores transmissores da esquistossomose e meningite eosinofílica, com de técnicas de identificação, testes de infectividade, noções de georreferenciamento e monitoramento das áreas com potencial risco de transmissão dessas doenças.

Segundo a coordenadora estadual de Controle de Esquistossomose, Filariose, Geo-helmintos e Tracoma, Antonilde Sá, “esse treinamento reforça a aliança entre o Estado e os municípios para ofertar técnicos mais qualificados na rede pública de saúde e fortalecer as ações de educação em saúde e mobilização social para o enfrentamento das endemias e doenças emergentes que atingem a população paraense”.

Coleta de amostras de caramujo em esgoto urbano aberto

Saneamento – Antonilde Sá explicou que a esquistossomose, também conhecida como “barriga d’água”, é transmitida, principalmente, pelo caramujo Biomphalaria glabrata, que habita áreas alagadas. A doença também está associada a precárias condições de saneamento. O caramujo se infecta com larvas chamadas miracídios, que surgem a partir de ovos do Schistossoma mansoni eliminados nas fezes de pessoas contaminadas.

No interior do caramujo, o parasita se transforma em cercarias, que são expelidas diretamente nos córregos, e penetram na pele humana por qualquer parte do corpo, principalmente nos horários mais quentes do dia e com alta incidência luminosa. Quando a cercária penetra no corpo se transforma no verme adulto, o Schistossoma mansoni, causando a esquistossomose.

Os sintomas da doença são febre, dor de cabeça, suores, fraqueza, falta de apetite e diarreia. Na fase crônica, a diarreia se torna mais constante, alternando-se com prisão de ventre, prurido anal e emagrecimento. Nessa fase, surgem complicações como aumento do fígado, baço, hemorragia digestiva e hipertensão pulmonar e portal.

O tratamento é feito com dose única do medicamento Praziquantel, fornecido pela Atenção Básica, por meio do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE). A principal forma de prevenção da esquistossomose é o destino adequado dos dejetos humanos contaminados em fossas e ações de saneamento dos esgotos.

Caramujo encontrado em esgoto urbano aberto em Belém

Incidência – No Pará, a doença tem uma circulação focal na região bragantina, no Nordeste, que compreende os municípios do 4º CRS, além de Belém, cujo Programa de Controle da Esquistossomose diagnostica uma média de 200 novos casos por ano em áreas com baixa cobertura de saneamento, nos bairros da Terra Firme, Guamá, Jurunas, Condor, Sacramenta e Telégrafo.

Durante as aulas práticas do treinamento foram coletados, no esgoto urbano aberto no bairro da Sacramenta, 67 espécimes de Biomphalaria, que pertencem a um grupo potencialmente vetor para esquistossomose.

Aula prática em laboratório, em que o aluno disseca uma Biomphalaria para identificação da espécie

Caracol africano – O treinamento também enfatizou a biologia e as práticas de controle da Achatina fulica, o “caracol gigante africano”. “Essa espécie exótica foi introduzida no Brasil, e hoje se encontra disseminada configurando uma praga urbana com grande risco para a saúde pública por ser vetor do Angiostrongylus cantonensis, causador da meningite eosinofílica”, informou Antonilde Sá.

A principal manifestação dessa doença é a ocorrência da meningoencefalite eosinofílica, que resulta da presença de larvas nas membranas do cérebro (meninges), provocando reação inflamatória. As manifestações clínicas mais comuns são dor de cabeça severa, náusea, vômitos, pescoço rígido e anormalidades neurológicas. Ocasionalmente ocorrem invasões oculares.

O tratamento visa aliviar os sintomas e evitar complicações e sequelas, como deficiência motora e perda da visão. A melhor forma de prevenir a doença é evitar o contato direto com os moluscos e as secreções que eliminam.

Texto: Roberta Vilanova/Sespa
Fotos: Divulgação