Vítimas de queimadura contam com centro especializado no Hospital Metropolitano

Vítimas de queimadura contam com centro especializado no Hospital Metropolitano

06/06/2022 Off Por Roberta Vilanova

O paciente queimado sofre danos físicos, funcionais, psicológicos, sociais e econômicos

Queimadura é toda lesão do tecido orgânico resultante de um trauma causado por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Dependendo do grau da lesão, pode até levar a morte. Por isso, nesta segunda-feira (06), em que é celebrado o Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) destaca o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE).

Apesar de a finalidade da data, instituída pela Lei Nº 12.026/2009, ser divulgar as medidas preventivas necessárias à redução da incidência de acidentes envolvendo queimados, é importante que os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) saibam que podem contar com um serviço de alta complexidade no HMUE, que é referência no Norte do Brasil para tratamento de queimados.

Tipos de queimadura  – As queimaduras são classificadas de acordo com a sua profundidade e tamanho, sendo geralmente mensuradas pelo percentual da área corporal afetada.

A queimadura de 1º grau atinge a camada mais superficial da pele, é seca e não produz bolhas. Os sintomas são dor intensa e vermelhidão local. Geralmente melhoram no intervalo de três a seis dias, podendo descamar e não deixam sequelas.

A queimadura de 2º grau atinge diferentes profundidades da derme. Provoca vermelhidão, dor mais intensa e forma bolhas. Leva até 21 dias para cicatrizar e pode deixar marcas mais significantes.

Já a queimadura de 3º grau atinge tecidos subcutâneos, podendo inclusive atingir músculos e estruturas ósseas. São lesões esbranquiçadas ou acinzentadas, secas, indolores e deformantes, que não curam sem apoio cirúrgico.

Em 2021, o HMUE atendeu 529 pessoas vítimas de queimaduras, com 11 óbitos. Em termos comparativos, de janeiro a maio de 2022, o HMUE atendeu 227 pacientes vítimas de queimaduras, com seis óbitos; contra 207 atendimentos e 12 óbitos registrados no mesmo período de 2021.

De acordo com dados do HMUE, a maior causa de queimaduras entre os jovens adultos é por descarga elétrica, e entre as crianças, por líquido escaldante.

O Centro de Queimados conta, atualmente, com 20 leitos, sendo 12 de enfermaria adultos, seis pediátricos e dois leitos de UTI para adultos e com uma ampla equipe multiprofissional.

Segundo o médico clínico e intensivista do HMUE, Sandro Oliveira, a atenção especializada é definida conforme o tipo de queimadura, a sua profundidade e extensão, localização e tipo de paciente e explicou cada um desses aspectos:

“Quanto ao tipo de paciente, precisam de atenção, principalmente, crianças muito pequenas, pessoas muito idosas, e pacientes com comorbidades descompensadas (diabetes, insuficiência cardíaca, insuficiência renal)”, avaliou.

Quanto ao tipo, toda queimadura química, elétrica e de vias aéreas por inalação de fumaça quente deve ser avaliada. Já em relação à profundidade devem ser avaliadas aquelas a partir de segundo grau e todas as lesões de terceiro grau. E quanto à extensão e localização, precisam ser avaliadas as queimaduras de segundo grau (bolha) que atinjam mais que 10% de superfície corpórea (todo um braço, metade de uma perna ou lesões envolvendo tórax/abdômen/dorso) e que não comprometam zonas nobres. E também as que atinjam face, mãos, pés, região de genitália e grandes articulações como ombros, cotovelos, quadril e joelhos.

Crianças são as principais vítimas de queimaduras em ambiente doméstico

Tratamento – Sandro Oliveira esclareceu que, durante o processo de internação, o paciente poderá receber hidratação venosa, antibióticos, medicamentos para dor, suporte de vida, curativos, suplementos alimentares, exercícios, uso de órteses e realização de cirurgias. “No HMUE, também temos utilizado com bons resultados curativos especiais à vácuo para acelerar o processo cicatricial; gameterapia para tornar a reabilitação mais lúdica e rodas de conversas, aproximando equipe, pacientes e seus familiares”, destacou.

O tempo de internação depende de cada caso, mas pode ir de poucos dias até meses. “As queimaduras elétricas possuem um potencial destrutivo e mutilante muito maior. Geralmente, esses pacientes ultrapassam um mês de internação. E mesmo após a internação o paciente ainda deverá ser acompanhado por meses/anos para avaliação das sequelas tardias”, explicou.

De acordo com Sandro Oliveira, o paciente queimado sofre danos físicos, funcionais, psicológicos, sociais e econômicos. Por isso o melhor tratamento contra a queimadura é não se queimar”, alertou o médico.

Por ser um paciente tão complexo, conforme disse o especialista, é essencial dispor de uma boa equipe multiprofissional formada por médicos clínicos, cirurgiões plásticos e vasculares para definição do plano de tratamento, equipe de enfermagem para definição de plano de cuidado; equipe de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e nutrição para plano de reabilitação; psicologia para plano de enfrentamento psicológico e escuta ativa e serviço social para plano de suporte social. “Além disso, a equipe de limpeza do hospital também é fundamental para manter um ambiente limpo influenciando de forma positiva na redução do risco de infecções”, observou Sandro Oliveira.

Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência

Experiência – Neivi Nitiely Ribeiro dos Santos tem 21 anos e é mãe de Daivid Santos Costa, de um ano e três meses, internado no HMUE há uma semana após sofrer um acidente em casa. Eles são de Paragominas, nordeste paraense.

Ela contou que o menino puxou a toalha da mesa e a panela do feijão virou em cima dele. A criança recebeu o primeiro atendimento numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e de lá foi transferida para o HMUE.

“Sou muito grata por tudo o que fizeram por nós e serei grata para o resto da vida. Eu não dormia porque toda vez que fechava os olhos via o meu filho chorando naquele estado. Agora o meu coração está muito mais calmo vendo ele sorrindo novamente”, declarou.

Segundo o diretor hospitalar do HMUE, Thiago Zache, no Metropolitano, todos os esforços são direcionados para salvar vidas de crianças e adultos que necessitam desse atendimento. “Atendemos todos sempre com muita empatia e humanização a fim de minimizar sensações negativas trazidas pelo acidente”, comentou.

Quadra Junina – O médico Sandro Oliveira chama a atenção das famílias para que tenham cuidado com os fogos de artifício, cuja comercialização aumenta neste período. “Dependendo da procedência ou da forma que são manipulados, esses fogos podem gerar graves lesões, desde amputações traumáticas no momento do acidente quanto a morte. O ideal seria evitar o uso de fogos de artifícios inclusive pensando em pessoas que podem sofrer com o estresse acústico, como autistas, idosos, vítimas de derrames, doenças cardíacas e até animais”.

Para quem deseja manter essa tradição arriscada, ele orienta que comprem fogos de qualidade certificados pela agência reguladora; acendam em local aberto evitando direcionar para árvores ou rede elétrica; utilizem um cabo de vassoura ou um suporte seguro e não inflamável para segurar o rojão afastando-o do corpo e da face de quem manipula que sempre deverá ser um adulto. “Se apesar dessas medidas ainda ocorrer um acidente, devem ser seguidas as orientações de cuidado de uma queimadura térmica, ou seja, colocar o local afetado em água corrente, cobrir com pano limpo e buscar atendimento médico”, concluiu.

Medidas preventivas:

Contra acidentes térmicos: 

  • Manter cabos e alças de panela em bom estado
  • Pegar panela sempre pelo cabo
  • Não deixar os cabos de panela virados para fora do fogão;
  • Manipular adequadamente a panela de pressão;
  • Manter crianças longe da cozinha durante o preparo dos alimentos;
  • Testar a água do banho com o dorso da mão antes de molhar a criança;
  •  Manter objetos aquecidos longe do alcance de crianças;
  • Não jogar álcool diretamente sobre o fogo;
  • Abrir portas e janelas ao sentir cheiro de gás escapando, não acender nada, sair de casa e pedir ajuda aos bombeiros.
  • Não manipular fogo perto de produtos inflamáveis.
  • Como primeiros socorros, afastar a vítima das chamas, colocar a área queimada em água corrente por pelo menos 15 minutos, secar bem, cobrir o local com um pano limpo e buscar atendimento médico. Não colocar manteiga, pó de café, creme dental ou qualquer outra substância sobre a queimadura. Somente o médico sabe o que deve ser aplicado sobre o local afetado.

Contra acidentes elétricos:

  • Não mexer na rede elétrica sem equipamento de proteção individual adequado;
  • Usar protetor em todas as tomadas elétricas da casa;
  • Evitar sobrecarregar a tomada com vários aparelhos ao mesmo tempo;
  • Evitar mexer no celular enquanto estiver conectado na rede elétrica;
  • Desligar o registro antes de ajudar uma pessoa vítima de descarga elétrica.

Contra acidentes químicos: 

  • Utilizar luvas grossas adequadas na manipulação de substâncias corrosivas;
  • Nunca entrar em contato direto com a substância, seja líquida ou em pó;
  • Se houver contato, colocar o local afetado sobre água corrente abundante por 15 minutos, cobrir e buscar ajuda.
  • Manter produtos de limpeza longe do alcance de crianças e animais.

(Com colaboração de Alberto Dergan/HMUE)

Texto: Roberta Vilanova/Sespa